Juarez, o doutor caipira e os foliões do Malhador
A
Folia de Reis é uma festa religiosa, Segundo o livro de Mateus (2, 1-12), os
magos eram sábios que vieram do Oriente, guiados por uma estrela, para adorar o
Deus Menino em Belém. Especula-se que eles não eram reis, cada um com
características próprias e também não se sabe o número exato. Existe lenda
dentro da própria lenda, coisas entre os três Reis Magos, mas que nunca
interessaram aos festeiros. Esta festa se tornou uma grande celebração para a
igreja. Em toda Europa, é feriado no Dia de Reis, e em muitos lugares, os
presentes são distribuídos apenas no dia 6 de janeiro.
No ano de 2013 fui convidado para assistir o Encontro da
Folia de Reis de Malhador no Condomínio de Chácaras de Alta Vista, Senador
Canedo, que acontece no dia 06 de janeiro pelo terceiro ano consecutivo. Por
incrível que pareça, confesso, foi à primeira vez que vi de perto aquele belo
trabalho de louvação ao Divino Espírito Santo através da cantoria e sons
específicos. Uma das características da festa é a diversidade, cada cultura,
cada cidade tem costumes e tradições diferentes, de acordo com as peculiaridades
da região, e Malhador não é diferente. Em cada rosto via a satisfação e a necessidade de
compartilhar a amizade que ali nascia e o desejo de saírem juntos em
peregrinação, seguindo a estrela guia criada pela imaginação de cada um até o
encontro do Menino Jesus. Logo à frente, um palhaço, cuja função simbolicamente,
é proteger o Menino Jesus, e com suas peraltices confundir os soldados de
Herodes. Diz à lenda que aos palhaços cabia o papel de pedir aos donos das
casas visitadas, os donativos para a festa. O anfitrião pode, em contrapartida,
exigir que algum serviço seja feito em troca dos donativos. Todavia, no caso da
Folia de Reis de Malhador, pequeno vilarejo perto da cidade turística de
Pirenópolis,
o
anfitrião e responsável pela festa, é o médico ginecologista Juarez Antônio de
Souza – o doutor caipira, que assumiu todos os ônus da festa, tanto em razão da
herança deixada pelos seus pais José Antônio Sousa e Maria Serafim de Sousa, como
pelo seu amor à arte e ao folclore. São companheiros os foliões, os
sanfoneiros: Meire Minadaks, Izá e Ediberto; os violeiros Valdivino, José
Rafael, Sebastião e Antônio; no pandeiro o Cílio; no cavaquinho, o Orlando; no
reco-reco, o Romes; no tambor ou caixa, a Ana Machado; de cujo grupo hoje eu
tenho a satisfação de fazer parte, assim como, outros ases da cultura e do
folclore de Goiás. Também foram convidados para aquela linda festa a escritora
Elizabeth Abreu, o prof. Alvaro Catelan e Sônia Ferreira, os escritores e
folcloristas Bariani Hortêncio e Prof. Jadir, e outros importantes membros da
cultura, música, arte e folclore de Goiás.
Encantado,
vi seguir em forma de procissão pessoas devidamente uniformizadas, à frente, a
alferes Tamires, conduzindo a bandeira que representa a autoridade espiritual
dos foliões, e estes, pelo que se conhece, não podem ser ultrapassados por
ninguém. Atrás, sob a batuta musical do Mestre Juarez, cantando canções
compostas pelo próprio grupo, seguiam as pessoas da comunidade e convidados. O
candidato a integrar um grupo de Folia de Reis, tem obrigações e deveres que
iniciam com a submissão às ordens do Mestre, e alguns grupos chegam a ter um
código de ética escrito e aceito pelos membros.
O
percurso é feito sempre iniciando pelo lado direito de tal modo que, de casa em
casa a companhia de Santos Reis aproximam-se do local da recepção final, quando
o Alferes e equipe despojam-se de seus materiais e os guardam na casa. Quando
eles vão embora, se despendem, repetindo os gestos da chegada (Despedida). Em
algum momento da festa, é feita a Passagem da folia para o novo alferes. Foram
anfitriões, além do Dr. Juarez e esposa, os casais Beto e Priscila, Alvaro
Catelan e Cláudia.
Quando falo da folia iniciar o seu percurso pelo lado
direito é uma superstição ligada à festa que vem desde os tempos idos.
Antigamente, as pessoas não entendiam a maior parte dos fenômenos naturais, e
então, costumavam atribuir suas causas a determinados fatos, e esse costume foi
transferido através de gerações sem nenhuma fundamentação científica, e hoje em
dia, as pessoas sabem disso, mas por via das dúvidas... As crendices listadas a
seguir referem-se à festa dos Santos Reis. Por exemplo: A bandeira não deve
fazer um formato de cruz por onde ela já passou: Se isso acontecer, alguém da
folia morre. Se for preciso atravessar uma cerca de arame, os instrumentos não
devem passar por baixo da cerca, para que não percam o som. No Dia de Reis,
algumas famílias costumam escrever o nome dos três reis magos em um pedaço de
papel branco e colocá-lo na porta de entrada da casa, para que haja durante
todo ano, fartura, saúde e felicidade. Há também uma simpatia, feita com romã,
no dia 06 de janeiro em que a família se reúne para rezar um Pai Nosso e uma
Ave Maria, depois, cada um pega três caroços de romã, põe na boca para sorver o
sumo da fruta, um a um, e depois embrulha em um pedaço de papel para guardar na
carteira durante o ano inteiro, para não faltar dinheiro. A cada semente
embrulhada deve-se repetir “São Belchior, São Gaspar e São Baltazar. Não deixe
o dinheiro faltar”. A cada ano, as sementes antigas devem ser jogadas em água
corrente. A folia não pode voltar pelo mesmo lugar de onde veio Os andarilhos
não passam por baixo de varal de roupa. VANDERLAN
DOMINGOS DE SOUZA. É advogado e escritor – Membro da União Brasileira
dos Escritores; Presidente da ONG Visão Ambiental; membro da Academia de Letras
de Morrinhos; membro da Academia de Letras, Ciências e Artes e Inhumas; membro
da Confederação Brasileira de Letras e Artes de São Paulo e da Folia de Reis do Malahdor. Escreve todas as
quartas-feiras no DM. E-mail: vdelon@hotmail.com Blog:
vanderlandomingos. blogspot.com Site: www.ongvisaoambiental.org.br
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